22.8.04
O jornalismo consiste basicamente em dizer "Lord Jones Morreu" para pessoas que nunca souberam que Lord Jones estava vivo.
(G. K. Chesterton)
Fala aí!
(G. K. Chesterton)
Fala aí!
21.8.04
Se não houver notícias, vou lá fora e mordo um cachorro.
(Douglas Kirk, no livro "A Montanha dos Sete Abutres")
Fala aí!
(Douglas Kirk, no livro "A Montanha dos Sete Abutres")
Fala aí!
Quem mais manda na mídia é você, meu caro leitor ou espectador. E você, consumidor, é o mal da imprensa. Editores quebram a cabeça diariamente para agradá-lo.
(Paulo Francis)
Fala aí!
(Paulo Francis)
Fala aí!
14.8.04
Velando os valores desvalidos, a crise da grave greve
Depois da grave greve, o que nos resta senão o rasto do ócio que não sacia? Macambúzios, fora do ritmo habitual, confundindo segunda-feira com segundas-férias e tudo fundindo com sextas-folgas, os estudantes que estão-de-antes retornaram às aulas nas três universidades estaduais paulistas. Todos trazendo tristes semblantes e tentando se conformar com o firmado: aulas até começo de fevereiro, praia no câmpus, colar a idéia ?quiçá houvesse piscina pra calar o calor de Bauru?.
Na cabeça um esforço beira o fiasco, abisma a fronte: onde estão arquivadas as lembranças dos trabalhos pela metade? Ainda é meio maio ou já agosteia? Alguém encontrou o caderno que eu perdi em qual dreno de memória? Perdão, perdão, sr. Professor, mas entre pedras e perdas meu pedido se resume à paciência.
Alguns aproveitaram as férias forçadas para assistir a todas as sessões da tarde comendo bolachas mirabel no sofá da casa da mamãe. Outros preferiram arrancar o siso, decisão que há muito era protelada. Afoitos e sedentos, uns transaram o tempo todo ? para levianos aliviarem a tensão e tesão. Quem tinha grana viajou, quem via trama granou. Os mais incautos sempre acreditavam que a greve acabaria na semana que vem e não fizeram nada.
***
Todo ano é a mesma história: professores articulam a greve, convencem os funcionários e propõem unificar a pauta com as reivindicações dos alunos. Os alunos geralmente querem restaurante universitário, moradia estudantil, mais laboratórios e mais professores. O movimento estudantil sempre acredita nas boas intenções da greve e se alia aos professores. Os professores, no fundo, só querem melhorar seus salários.
Todo ano é a mesma história: professores e funcionários conseguem um aumento bem menor do que pretendiam e voltam às aulas mesmo assim. As reivindicações dos alunos ficam pra depois.
Todo ano é a mesma história: os heróis do movimento estudantil acreditam que a greve foi profícua e no ano que vem, ah!, no ano que vem os alunos terão restaurante universitário, moradia estudantil, mais laboratórios e mais professores e quem sabe até ganharão um carro novo na promoção de ?cartas ao reitor?, digo ?cartas ao leitor?.
O detalhe é que o ano que vem é sempre o ano que vem. Inalcançável.
***
Observação importante: toda generalização é cruel e injusta, além de parcialmente burra.
Edison Veiga Junior
ouvindo o silêncio, sua única e residual companhia
Fala aí!
4.8.04
A glória da imprensa foi feita por gente com opiniões fortes e inconformistas.
(Paulo Francis)
Fala aí!
(Paulo Francis)
Fala aí!
rasgos dalma
Um livro para quê, rapaz, sempre me advertia o velho Escobar, nos tempos de eu menino. Um livro precisa ter um motivo, um objetivo, e você quer dizer o que?, me perguntava sem perceber que suas palavras frias de velho ancião desgostoso com a vida machucavam meus simples ideais.
Pois é Jussara, apenas queria eu escrever um livro. Sem visar nada mais. Sem querer a fama de uma imortalidade, sem querer passar uma mensagem de amor, uma carícia, ou um afago. Queria um livro que ficasse fechado para sempre, que ninguém nunca lesse, que para nada servisse. Um livro, apenas. Um monte de papel encadernado de tal maneira que o vigário visse e preferisse sua bíblia, que o advogado visse e preferisse sua constituição, que o delegado visse e preferisse seu código penal, que a adolescente visse e preferisse seus romances água-com-açúcar, que o professor visse e preferisse a cartilha, que o aluno visse e preferisse não ler mesmo.
Nunca almejei destruir ou governar impérios, tampouco me materializar para sempre nessas páginas mentirosas das apostilas de literatura! Para que quereria eu ser mais um personagem oblíquo se a vida representa mais do que meia dúzia de linhas vangloriando-me?
Você há de concordar, Jussara (aliás, desculpe a intimidade fora de propósito, tratando-a por você), que um reles livro é apenas um livro, nada mais. Somem as palavras, fogem os argumentos, esvai-se o sentido e tudo se acaba ao ponto final. O tempo roda, roda, roda... e o leitor, pobre leitor!, fica parado, no mesmo lugar, contemplando o vazio existencial que se reflete sobre ele, coitado.
Por isso cansei-me de bibliotecas, estantes, gaiolas do saber, dicionários, verbetes analógicos, cronômetros, e tudo mais. Cansei-me até do abacateiro que me abrigava com sua sombra enquanto eu devorava Herman Hesse e Machado (ou a machado), sempre com algumas poesias do Bandeira no bolso (para não dar bandeira).
Ontem fui à escola onde estudei. Mas já faz tanto tempo, pensei que no âmago do meu ser ainda restassem mais que lembranças, contudo décadas de ausência me fizeram parecer um anacoreta nefelibata no meio daquela renca incontida de jovenzinhos estudantes. Jovenzinhos aliás que não são os mesmos daquele glorioso tempo: hoje parecem mais pálidos, menos felizes, sorumbáticos talvez, andam taciturnos como que preocupados em demasia com a atual conjuntura socio-econômica de seus lares, e essa falta de jucundez da parte da nova geração me preocupa. Perguntei ao meu neto se ele era feliz, Não sei o que o senhor quer dizer com isso, vovô, foi a resposta pronta que obtive. Isso me deixou mais pensativo ainda. Talvez não seja nada grave. Talvez seja que ao pé de seus seis anos meu neto não entenda a abstração desses conceitos vagos que o ser humano criou para seu livre martírio. Pois se os homens fossem sempre felizes, a palavra felicidade nem teria motivo para existir. É nessa aliança que confio para o futuro, embora esteja afligido pelo aspecto mórbido das crianças que cercam meu neto. Ah! preocupações de vô... Não devem ter nenhum fundamento, ora bolas!, por que pensar nisso. Está claro que eles são felizes, serão felizes, enfim nasceram felizes. Ou não?
Bom, Jussara, me desculpe por estar tão perturbado e mesmo assim querer lhe escrever. Você deve estar ficando confusa com meus argumentos, meu desabafo está meio que andando por si só, sem me consultar. O fato é que foi pensando no livro que não escrevi por culpa do finado Escobar e agora vendo o meu neto embebendo-se do néctar talvez selvagem dessa sociedade antropomórfica que, amargurado, decidi lhe escrever uma carta. Não sei se faz sentido, também estou pouco me importando com o sentido. Às favas eu condeno todo e qualquer sentido.
Não quero ser acusado de niilista. Não por preconceito, mas porque isso aqui é mais do que niilismo, isso é uma aversão total a qualquer tipo sinistral de loucura ou sensatez. Afinal, tudo são faces da mesma moeda, mas a minha idéia não compreende moedas, nem sistema monetário, nem números, menos ainda valores. A transposição dos elementos é uma falsidade tão eloqüente que ontem à noite vomitei sangue só de pensar nisso! E o meu neto, tenho pena dele, repetindo na escola o mesmo abecedário que eu repeti, sentado talvez na mesma carteira, pensando talvez no mesmo futebol.
Alguns dizem que a vida é doce, Jussara, pode? Isso me irrita mais ainda. A vida deve ter sido doce, já há algum tempo, quando não havia bandidagem, nem dinheiro, nem doença, nem nada, e por que não dizer quando não havia ser humano?!
É verdade, a existência não é mais livre. Somos escravos do relógio, do computador, das formalidades regimentais, da burocracia, do... Somos escravos. Escobar dizia, A humanidade está condenada, meu filho, ouça o que esse velho pacato diz. Naquela época não ouvi. Hoje compreendo vagamente.
Ou o vago me compreende.
Edison Veiga Junior
ouvindo o silêncio, sua única e residual companhia
Fala aí!
Pois é Jussara, apenas queria eu escrever um livro. Sem visar nada mais. Sem querer a fama de uma imortalidade, sem querer passar uma mensagem de amor, uma carícia, ou um afago. Queria um livro que ficasse fechado para sempre, que ninguém nunca lesse, que para nada servisse. Um livro, apenas. Um monte de papel encadernado de tal maneira que o vigário visse e preferisse sua bíblia, que o advogado visse e preferisse sua constituição, que o delegado visse e preferisse seu código penal, que a adolescente visse e preferisse seus romances água-com-açúcar, que o professor visse e preferisse a cartilha, que o aluno visse e preferisse não ler mesmo.
Nunca almejei destruir ou governar impérios, tampouco me materializar para sempre nessas páginas mentirosas das apostilas de literatura! Para que quereria eu ser mais um personagem oblíquo se a vida representa mais do que meia dúzia de linhas vangloriando-me?
Você há de concordar, Jussara (aliás, desculpe a intimidade fora de propósito, tratando-a por você), que um reles livro é apenas um livro, nada mais. Somem as palavras, fogem os argumentos, esvai-se o sentido e tudo se acaba ao ponto final. O tempo roda, roda, roda... e o leitor, pobre leitor!, fica parado, no mesmo lugar, contemplando o vazio existencial que se reflete sobre ele, coitado.
Por isso cansei-me de bibliotecas, estantes, gaiolas do saber, dicionários, verbetes analógicos, cronômetros, e tudo mais. Cansei-me até do abacateiro que me abrigava com sua sombra enquanto eu devorava Herman Hesse e Machado (ou a machado), sempre com algumas poesias do Bandeira no bolso (para não dar bandeira).
Ontem fui à escola onde estudei. Mas já faz tanto tempo, pensei que no âmago do meu ser ainda restassem mais que lembranças, contudo décadas de ausência me fizeram parecer um anacoreta nefelibata no meio daquela renca incontida de jovenzinhos estudantes. Jovenzinhos aliás que não são os mesmos daquele glorioso tempo: hoje parecem mais pálidos, menos felizes, sorumbáticos talvez, andam taciturnos como que preocupados em demasia com a atual conjuntura socio-econômica de seus lares, e essa falta de jucundez da parte da nova geração me preocupa. Perguntei ao meu neto se ele era feliz, Não sei o que o senhor quer dizer com isso, vovô, foi a resposta pronta que obtive. Isso me deixou mais pensativo ainda. Talvez não seja nada grave. Talvez seja que ao pé de seus seis anos meu neto não entenda a abstração desses conceitos vagos que o ser humano criou para seu livre martírio. Pois se os homens fossem sempre felizes, a palavra felicidade nem teria motivo para existir. É nessa aliança que confio para o futuro, embora esteja afligido pelo aspecto mórbido das crianças que cercam meu neto. Ah! preocupações de vô... Não devem ter nenhum fundamento, ora bolas!, por que pensar nisso. Está claro que eles são felizes, serão felizes, enfim nasceram felizes. Ou não?
Bom, Jussara, me desculpe por estar tão perturbado e mesmo assim querer lhe escrever. Você deve estar ficando confusa com meus argumentos, meu desabafo está meio que andando por si só, sem me consultar. O fato é que foi pensando no livro que não escrevi por culpa do finado Escobar e agora vendo o meu neto embebendo-se do néctar talvez selvagem dessa sociedade antropomórfica que, amargurado, decidi lhe escrever uma carta. Não sei se faz sentido, também estou pouco me importando com o sentido. Às favas eu condeno todo e qualquer sentido.
Não quero ser acusado de niilista. Não por preconceito, mas porque isso aqui é mais do que niilismo, isso é uma aversão total a qualquer tipo sinistral de loucura ou sensatez. Afinal, tudo são faces da mesma moeda, mas a minha idéia não compreende moedas, nem sistema monetário, nem números, menos ainda valores. A transposição dos elementos é uma falsidade tão eloqüente que ontem à noite vomitei sangue só de pensar nisso! E o meu neto, tenho pena dele, repetindo na escola o mesmo abecedário que eu repeti, sentado talvez na mesma carteira, pensando talvez no mesmo futebol.
Alguns dizem que a vida é doce, Jussara, pode? Isso me irrita mais ainda. A vida deve ter sido doce, já há algum tempo, quando não havia bandidagem, nem dinheiro, nem doença, nem nada, e por que não dizer quando não havia ser humano?!
É verdade, a existência não é mais livre. Somos escravos do relógio, do computador, das formalidades regimentais, da burocracia, do... Somos escravos. Escobar dizia, A humanidade está condenada, meu filho, ouça o que esse velho pacato diz. Naquela época não ouvi. Hoje compreendo vagamente.
Ou o vago me compreende.
Edison Veiga Junior
ouvindo o silêncio, sua única e residual companhia
Fala aí!